13 de dez. de 2010

O Sacramento do Batismo

Comecemos pelo primeiro sacramento. O Batismo, sendo o primeiro, é justamente chamado de “porta” dos sacramentos, por que, a menos que o Batismo preceda a todos, ninguém está em estado de receber os demais.

No Batismo, as seguintes cerimônias são observadas: antes de tudo, quem está sendo batizado deve fazer uma profissão de fé nas crenças da Igreja Católica, por si mesmo ou por outro. Depois, é chamado a renunciar ao demônio, suas ações e glórias. Por terceiro, é batizado em Jesus Cristo e transferido das amarras do demônio para dignidade de filho de Deus, herdeiro de Deus, co-herdeiro de Cristo. Em quarto lugar, vestimentas brancas são colocadas sobre o batizado, que é exortado a manter-se puro e imaculado até sua morte. Em quinto, uma vela acesa é segura em suas mãos, significando as boas ações que devem ser somadas à uma vida inocente por todo tempo que permaneça vivo. Então, o Senhor fala no Evangelho: Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt 5,16).

Estas são as principais cerimônias que a Igreja utiliza na administração do Batismo. Omito algumas que não se relacionam ao propósito do texto. Destas observações, cada um de nós pode facilmente descobrir se tem levado uma vida correta desde seu Batismo até o momento atual. Mas eu fortemente desconfio que poucos realizam tudo que prometeram fazer, e que deveriam ter feito. Porque muitos são os chamados, e poucos os escolhidos (Mt 22,14); e também, estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram (Mt 7,14).
O Batismo de Jesus

Comecemos pelo Credo Apostólico. Quantos do povo e das ordens menores sequer lembram-se dele, ou o aprenderam, ou apenas sabem suas palavras, mas não o sentido! E mesmo assim, em seu batismo responderam por si ou através de seus padrinhos, que acreditam em cada um dos seus artigos. Mas se Cristo habita em nossos corações pela fé, com diz o apóstolo, como Ele pode habitar nos corações daqueles que mal conseguem repetir o Credo, e muito menos tê-lo em seu coração? E se Deus, pela fé purifica nossos corações, como explica São Pedro, como se sustentará nos corações daqueles que não tem fé em Cristo, embora tenham recebido o Batismo a seu tempo! Estou falando de adultos, não de crianças. Crianças são justificadas por possuírem a graça, fé, esperança e caridade, mas quando crescem para a maturidade, devem aprender o Credo e acreditarem em seus corações de acordo com a fé Cristã “na justiça” e confessar com suas bocas “a salvação”.

Repito: todos os cristãos são perguntados, diretamente ou através de seus padrinhos, se renunciam ao demônio, suas ações e glórias. E respondem: Eu renuncio. Mas quantos renunciam apenas por falar, mas não em realidade! Deus vê a todas as coisas e não pode ser enganado. Aqueles, no entanto, que desejam ter uma vida boa e uma morte boa, devem deixá-Lo entrarem em seu coração e não enganarem a si mesmos; e considerarem séria e atentamente, várias vezes, se colocam amor nas glórias deste mundo e nos pecados que são obras do demônio; ou se dão espaço para Deus em seus corações, palavras e ações. E então, sua boa consciência irá consolá-los ou uma má consciência o conduzirá para a penitência.

Em nenhum outro rito é manifestada a bondade de Deus de maneira tão sublime e maravilhosa, tal que, se dispendermos dias e noites em admiração e agradecimentos por ela, não faríamos nada semelhante a tal benefício. Bom Deus! Quem pode compreender, que não está maravilhado; quem não se dissolve em pias lágrimas quando considera que o homem, justamente condenado ao inferno, é subitamente conduzido ao mais glorioso reino através do Batismo! Assim como tão grande benefício deve ser admirado, tão mais deve ser detestada a ingratidão daqueles que mal tenham chegado à idade da razão começam a renunciar aos benefícios de Deus e tornam-se escravos do demônio. Pois que é isto senão entregar sua juventude à concupiscência da carne, à concupiscência dos sentidos e ao orgulho da vida, que tornar-se amigo de demônio e negar Cristo Nosso Senhor em atos e palavras? Pouco é o número daqueles que, ajudados por uma graça especial de Deus, cuidadosamente preservam sua graça batismal; ou por verdadeira penitência, renunciam ao demônio, e retornando ao serviço de Deus, perseveram até o final de seus dias, livrando-se de morte miserável. Como expressa o profeta Jeremias, suportam o jugo do Senhor desde sua juventude. Mas, se não procedermos desta maneira, não podemos ter uma vida justa, nem sermos livrados de uma morte miserável.

Na quarta cerimônia o batizado recebe as vestes brancas e é ordenado a permanecer assim até comparecer perante o Senhor. Este rito significa a vida inocente, adquirida pela graça do Batismo, que deve ser preservada até a morte. Mas quem pode enumerar os enganos do demônio, o inimigo perpétuo da raça humana, que não deseja nada mais que desfigurar esta veste com toda espécie de mancha? Muito poucos, no entanto, podem dizer ter vivido uma longa e não ter adquirido manchas em suas vestes. Muito mais difícil é caminhar de maneira imaculada, e grandiosa será a coroa de uma vida inocente. Aqueles que desejarem uma vida e uma morte justas, deve ter cuidados para preservar suas vestes brancas. E, ao perceberem alguma mancha, devem lavá-la no sangue do cordeiro, por contrição verdadeira e lágrimas penitenciais. Quando Davi chorou seu pecado por um longo tempo, começou a ter esperança no perdão, e dando graças a Deus, disse confiantemente: Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve (Sl 50,9).

A última cerimônia é colocar a vela acesa na mão do batizando; como dissemos acima, significa as boas ações, que devem somar-se à uma vida santa. Que estas boas ações devem ser realizadas por quem renasceu através do Batismo, o apóstolo nos ensina: Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição (2Tm 4, 7-8). Aqui, em poucas palavras, são mencionadas as boas ações, combater as tentações do demônio, que anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar (I Pe 5,8). Também, os batizados devem completar a “carreira” em observância aos mandamentos, como afirma o Salmo: Correrei pelo caminho de vossos mandamentos, porque sois vós que dilatais meu coração (Sl 118, 32). Devem, em resumo, preservar a fidelidade ao mestre multiplicando seus talentos, cultivando sua vinha, atendendo ao seu rebanho, governando sua família ou de algum outro modo apontado pelo Todo Poderoso. Nosso Senhor deseja admitir-nos como filhos adotivos em sua herança eterna; isto poderia ser realizado pela sua grande glória e poder, mas aprouve à sabedoria divina requerer nossas boas ações, realizadas de acordo com sua graça e por nossa livre vontade, para merecermos a alegria eterna. A sua mais nobre e gloriosa herança não será dada àqueles que dormem, vadiam e são preguiçosos; mas aos atentos e laboriosos, àqueles que  perseverarem nas boas obras até o final.

Que cada um examine suas obras e diligentemente inquira se seu modo de viver,o conduz a uma vida justa e uma morte boa. Se sua consciência testemunha que combateu o bom combate contra seus vícios, concupiscências e todas as tentações da velha serpente, e que está por concluir uma boa carreira considerando todos os mandamentos do Senhor, sem reprovações, então pode exclamar como o Apóstolo: Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia (2 Tm 4,8). Mas, se após um exame cuidadoso de sim mesmo, sua consciência testemunhar que no combate com inimigo foi ferido; que seus dardos venenosos penetram-lhe a alma; que falhou em realizar boas obras, que não correu infatigável, mas muitas vezes deixou-se descansar; que não perseverou na fidelidade às coisas que Deus lhe confiou, mas retirou para si parte do lucro, por vanglória ou admiração das pessoas; ou qualquer outra coisa que lhe apresente a consciência; deve buscar imediatamente o remédio da penitência, e não adiar para outro momento por qualquer motivo que lhe pareça importante, por que não sabemos nem o nosso dia, nem nossa hora.


-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)

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