17 de dez. de 2010

Teu desejo é a tua oração

Teu desejo é a tua oração; se o desejo é contínuo, também a oração é contínua. Não foi em vão que o Apóstolo disse: Orai sem cessar (1Ts 5,17). Será preciso ter sempre os joelhos em terra, o corpo prostado, as mãos levantadas, para que ele nos diga: Orai sem cessar? Se é isto que chamamos orar, não creio que possamos fazê-lo sem cessar.

Há outra oração interior e contínua: é o desejo. Ainda que faças qualquer outra coisa, se desejas aquele repouso do sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesses de desejar.

Se teu desejo é contínuo, a tua voz é contínua. Ficarás calado, se deixares de amar. Quais são os que se calaram? Aqueles de quem foi dito: A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos esfriará (Mt 24,12).

O arrefecimento da caridade é o silêncio do coração; o fervor da caridade é o clamor do coração. Se tua caridade permanece sempre, clamas sempre; se clamas sempre, desejas sempre; se desejas, tu te recorda do repouso eterno.

-- Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo (século V)

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