O Nascimento de Jesus |
O anúncio essencial do Natal é a Encarnação do Filho de Deus. A Palavra do Pai faz-se carne e habita entre nós (Jo. 1, 14). Vem para o homem. Para todos os homens. Ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho, nascido duma mulher, ... para que nós recebêssemos a adoção de filhos (Gl. 4, 4). Como, com frequência, o revelaram os Padres e os Teólogos antigos, Deus faz-se homem para que o homem se torne Deus. O próximo Natal será esse "hoje", em que se dá esta "admirável permuta". Um "hoje" que nunca chegará ao ocaso, enquanto na terra nascer um homem que na sua pessoa, mostre gravada para além da sua fragilidade intrínseca de criatura terrena, a real imagem e semelhança com Deus, a dignidade de filho do Pai, de remido por Cristo. Para isto nasce Jesus, neste "hoje" do Natal, tão bem comentado por um escritor do Oriente: Neste dia nasceu o Senhor, vida e salvação dos homens. Operou-se hoje a reconciliação da divindade com a humanidade, e da humanidade com a divindade ... Deu-se hoje a morte das trevas e a vida do homem. Abriu-se hoje um caminho dos homens para Deus, e um caminho de Deus para a alma ... De fato, antes, toda a criação lançou um grito, arrastada para a corrupção da queda de Adão, que era rei dessas realidades. Mas o Senhor veio renovar, Ele próprio, como convinha, a verdadeira imagem de Deus, e recriá-la ... Hoje consuma-se a união, a comunhão e a reconciliação entre as realidades celestes e as terrenas: Deus e homem (Pseudo-Macário, Hom. 52).
Nasce o Redentor do homem. Nasce, com Ele, a humanidade. E nasce, com Ele, a Igreja, como muito bem sublinhou Santo Ambrósio, comentando o nascimento de Cristo: Reparai nos primórdios da Igreja que surge: Cristo nasce, e os pastores (isto é, os Bispos) começam a vigiar para reunir no átrio do Senhor os rebanhos dos Gentios. Compete à Igreja, pela sua missão primordial — nascida esta com Cristo nascido, e d'Ele recebida com solene mandamento — defender a dignidade do homem: de cada homem, como escrevi na minha primeira Encíclica, porque todos e cada um foram compreendidos no mistério da Redenção, e com todos e cada um Cristo se uniu para sempre, através deste mistério. Todo o homem vem ao mundo concebido no seio materno e nasce da própria mãe, e é precisamente por motivo do mistério da Redenção que ele é confiado à solicitude da Igreja. Tal solicitude diz respeito ao homem todo, inteiro, e está centrada sobre ele, de modo absolutamente particular. O objeto destes cuidados da Igreja é o homem na sua única e singular realidade humana.
-- Discurso ao Sacro Colégio durante a audiência para a apresentação de boas-festas, Papa João Paulo II, em 22 de Dezembro de 1979.
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