* Artigo IV: Creio em Jesus Cristo, que padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado
Descida de Cristo ao Limbo, de Andrea de Firenze, Igreja de Santa Maria Novella, Florença. |
20. E então, a mais Sagrada alma, separada do corpo de Jesus e permanecendo unida à divindade do Filho de Deus, como tem sido desde sempre, desceu ao Limbo. O Limbo é um local abaixo da terra onde estão as almas dos santos padres, profetas, patriarcas e muitos outros, reunidas à espera da vinda do Filho de Deus, pois sabem que as conduzirá para a abóboda do Paraíso. Pois desde o início da criação, homens bons tem vivido, tem sido amigos e tementes de Deus, pois livremente entenderam e professaram as santas verdades e nunca abandonaram sua fé frente aos perversos que se opuseram a elas. Estas almas reprovaram pecadores, corrigiram a maldade daqueles que se opuseram a Deus, o criador de todos. Mas homens corruptos e criminosos não aceitaram suas censuras, pela inspiração e assistência do Demônio, arranjaram falsas testemunhas, perseguiram boas pessoas, amigas de Deus, com todo tipo de maldade, fazendo-as prisioneiras, banindo-as das cidades, injuriando-as e insultando-as.
21. Correspondendo às grandes diferenças de vida entre os homens bons e os perversos, é muito diferente o estado destas almas que separaram-se de seus corpos. Todas almas daqueles que durante a sua vida foram virtuosos, quando a morte libertou a alma das ligações com o corpo, dirigiram-se para este lugar a pouco mencionado, chamado Limbo, localizado logo abaxo da superfície da terra. Lá não há, como no lugar chamado Inferno, fogos, tormentos ou dores. Tais punições são reservadas aos perversos, enquanto que as almas daqueles que agradaram a Deus repousam numa abençoada paz.
22. Abaixo desta região, há outra chamada Purgatório, por ser um lugar para purificação e limpeza, que tornará as almas daqueles não culpados de pecados graves, almas levemente marcadas por pecados veniais, que não incorreram em pecados mortais e ainda não fizeram penitências adequadas para cobrir as dívidas de seus pecados, que pela graça de Deus poderão livrar-se das culpas e pagar por seus erros. Neste local, através de sofrimentos e privações, livram-se dos velhos vícios encrustados nas almas, até pagarem por todos pecados atribuídos a elas; até as almas tornaram-se limpas a ponto de brilharem com intensidade. Então é permitido a elas entrarem em posse de sua herança, sendo uma punição esperarem por esta purificação até o momento justo.
23. A última destas abóbadas abaixo da Terra é propriamente chamado de Inferno, a mais miserável abóbada de chamas que nunca extinguem-se e tormentos tão horríveis e intoleráveis, de diferentes tipos, que se qualquer homem aplicasse a si mesmo tais punições por apenas uma hora de sua vida, mesmo que de maneira imperfeita e como nosso estado permite, a natureza de tais tormentos seria evidente, veria claramente o grande horror de fazer-se culpado de grandes crimes e maldades sem hesitação, por esporte ou diversão, e correr o risco de terem que suportar tão grandes tormentos por toda eternidade. Lá está Lucifer, príncipe dos espíritos que rebelaram-se contra Deus. Lá estão todos espíritos que o seguiram e desceram aos infernos junto com Lucífer. Lá estão todos homens que, desde o início da humanidade, desprezaram a graça de Deus e tornaram-se culpados de pecados mortais. Aqueles que uma vez colocados nestas chamas do inferno para sofrer eternamente sem esperança e serem atormentados por imensas e inumeráveis dores, sabem com certeza que nunca, por nenhum meio, por toda eternidade, jamais encontrarão remédio ou consolação, por menor que seja.
24. Meus queridos, que loucura é esta nossa, que nos faz vivermos de maneira despreocupada, sem temer o Inferno, enquanto estamos sempre alimentando aquele fogo eterno, empilhando em nossas consciências o peso de nossos pecados, cada dia mais e mais! Não é este um sinal claro que nossa fé é, não apenas fraca, mas inexistente? Podemos professar com nossas bocas, mas nossos atos refutam a Deus; pois aqueles que se chamam cristãos e permitem-se pecar como se fossem muçulmanos e idólatras, devem certamente pensar que podem enganar-se e mentir quando dizem acreditar em chamas eternas e punições reservadas aqueles que violam as leis de Deus. A Igreja, seja aquela militante composta por pessoas na Terra, ou a triunfante, formada pelos Santos que reinam junto com Deus, nunca reza por aqueles que estão no inferno, pois sabe muito bem que o Paraíso lhes está negado por toda eternidade, toda esperança esta perdida e a ruína é irreparável. Mas a Igreja, tanto a que está na Terra quanto nos Céus, ajuda de maneira caridosa as almas que sofrem no Purgatório, e é cheia de cuidados para com aqueles que ainda estão neste mundo; ela busca obter a graça de Deus para todos, para que livrem-se da miséria e chamas eternas do inferno.
25. Jesus Cristo morreu numa sexta-feira, sua sagrada alma, sempre unida á Divindade, desceu ao Limbo, e livrou todas almas que lá esperavam sua vinda; e no terceiro dia, no Domingo, ele subiu dos mortos, reunindo sua sagrada alma ao corpo que havia abandonado quando morreu na cruz. Neste momento recobrou a vida e, de posse total de sua imortalidade, apareceu primeiro a Sagrada Virgem Maria, então aos apóstolos, discípulos e a outros que lhe queriam. Assim, todas inseguranças e dúvidas que lhes acometeram quando de sua morte foram eliminadas e abundantemente compensadas. Ele ainda ofereceu, através do testemunho de seus apóstolos, o perdão aos inimigos e àqueles que lhe crucificaram, e concedeu sua graça a todos que a aceitaram. Havia grande números destes; e foi maravilhoso como muitos daqueles que obstinadamente não acreditaram em Jesus quando ainda estava vivo, pregando e confirmando seus ensinamentos com grandes milagres; quando Ele já não era mais visto acreditaram no testemunho dos apóstolos sobre a sua Ressurreição e colocaram toda sua esperança Nele, professaram sua crença em Deus Salvador dos homens. E estes que assim consideraram a verdade como sua fortaleza, isto afirmaram com estas palavras: "Creio em Jesus Cristo, que desceu à mansão dos mortos e no terceiro dia ressuscitou".
-- Explanação Catequética do Credo para os Habitantes das Ilhas Molucas, por São Francisco Xavier (século XVI)
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