3 de set. de 2011

O amor de Deus atua por toda a parte por meio do Espírito Santo


É verdadeira caridade, é perfeito amor o sentimento que manifestastes para com a minha humilde pessoa, senhor verdadeiramente santo, beatíssimo e muito amado. Por meio de Juliano, um dos meus amigos que regressava de Cartago, recebi uma carta vossa. Nela se manifesta tão luminosamente a Vossa Santidade que mais me parece estar a reconhecer-vos do que a conhecer-vos pela primeira vez. Porque esta caridade procede d’Aquele que para Si nos predestinou desde o princípio do mundo, no qual fomos feitos antes de nascer, porque foi Ele quem nos fez e a Ele pertencemos, Ele que fez tudo quanto havia de existir. Formados, pois, pela sua presciência e acção, ficámos unidos, já antes de nos conhecermos, pelos laços da caridade, num mesmo sentimento e na unidade da fé ou na fé da unidade, de modo que, ainda antes de nos vermos corporalmente, já nos conhecemos pela revelação do Espírito.

Por isso me congratulo e me glorio no Senhor, que, sendo único, faz atuar o seu amor por toda a parte nos que são seus, por meio do Espírito Santo que derramou sobre todos os homens e que é a corrente caudalosa do rio que alegra a sua cidade. Foi Ele que vos colocou merecidamente entre os seus cidadãos como chefe espiritual com os príncipes do seu povo, nessa Igreja Apostólica, e também a mim me quis levantar do pó da terra para tomar parte no mesmo ministério que o vosso. Mais me alegra porém aquela graça que o Senhor me fez ao preparar-me um lugar no íntimo do vosso coração e conceder-me a vossa amizade. Deste modo, posso gloriar-me com toda a confiança no vosso amor, que tão obsequiosamente me mostrastes com estes serviços e que me obriga a corresponder-vos com amor semelhante.

Para nada ficardes a ignorar a meu respeito, devo dizer-vos que fui por muito tempo um pobre pecador e que, se fui retirado das trevas e da sombra da morte recebendo o sopro da vida, se pus as mãos ao arado e tomei a cruz do Senhor, necessito contudo da ajuda das vossas orações para perseverar até ao fim. Será uma graça que se irá juntar aos vossos grandes méritos, se me ajudar, com esta intervenção, a levar a minha carga. O santo – não me atrevo a chamar-vos simplesmente irmão – que vem auxiliar quem precisa, será exaltado como uma grande cidade.

Enviamos a Vossa Santidade um pão em sinal de unidade, e que é também símbolo da indivisível Trindade. Fareis deste pão uma bênção [eulogia], se vos dignais recebê-lo.

-- Das Cartas de São Paulino de Nola, bispo (século V)

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