O Batismo de Santo Agostinho, |
2. Na verdade, Cristo não
foi ungido com óleo ou ungüento material por um homem. Mas foi o
Pai que, estabelecendo-o com antecedência como Salvador de todo o
universo, o ungiu com o Espírito Santo, conforme está dito: Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo (Lc 4,18). E o profeta
Davi exclamou: Vosso trono, ó Deus, é eterno, de eqüidade é vosso cetro real. Amais a justiça e detestais o mal, pelo que o Senhor, vosso Deus, vos ungiu com óleo de alegria, preferindo-vos aos vossos iguais (Sl 44,7-8). E como Cristo foi verdadeiramente crucificado e
sepultado e ressuscitou, e vós, pelo batismo, fostes, por
semelhança, tidos por dignos de com ele ser crucificados, sepultados
e ressuscita-dos, assim também na unção do crisma. Ele foi ungido
com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo,
chamado óleo de alegria, por ser causa da alegria espiritual. Vós
fostes ungidos com o óleo, feitos, partícipes e companheiros de
Cristo.
3. Vê, porem, que não
imagines ser um simples ungüento. Pois, como o pão da Eucaristia,
depois de epiclese do Espírito Santo, já não é simples pão, mas
o corpo de Cristo, assim também este santo ungüento, com a
epiclese, já não é puro e simples ungüento, mas é dom de Cristo
e obra do Espírito Santo, pela presença de sua divindade. Com ele
se unge simbolicamente tua fronte e os outros sentidos. Se, por um
lado, o corpo é ungido com o ungüento sensível, por outro, a alma
é santificada pelo santo e vivificado Espírito.
4. E primeiro sois ungidos
na fronte para serdes libertados da vergonha que o primeiro homem
transgressor levou por toda parte e para que, de face descoberta,
contempleis a glória do Senhor. Depois nos ouvidos, para terdes
ouvidos conforme disse Isaías: o Senhor Deus abriu-me o ouvido (Is 50,4) e o Senhor no Evangelho: Quem tem ouvidos para ouvir que
ouça (Lc 8,8). Em seguida nas narinas, para que, ao receberdes este divino
ungüento, possais dizer: Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam (Hb 2,15). Depois no peito, a fim de que atender o pedido: revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio (Ef 6,11). Como na verdade o Salvador, após seu batismo e a descida do
Espírito Santo, saiu a combater o adversário, assim também vós,
depois do santo batismo e da mística unção, revestidos da armadura
do Espírito Santo, resistis à força inimiga e a venceis dizendo:
«Tudo posso naquele que me conforta, Cristo».
5. Feitos dignos desta
santa unção, sois chamados cristãos. Assim, pela regeneração,
mostra ser de direito o nome [de cristãos]. Antes, pois, de serdes
declarados dignos do batismo e da graça do Espírito Santo, não
éreis dignos deste nome, mas estáveis a caminho de serdes cristãos.
6. É necessário que
saibais que há ó símbolo desta unção na Escritura Antiga. E na
verdade, quando Moisés comunicou ao irmão a ordem de Deus e o
estabeleceu sumo sacerdote, depois de lavar-se com água, o ungiu e
foi ele chamado Cristo, em virtude, evidentemente, da unção
figurativa. Do mesmo modo, o sumo sacerdote, ao elevar Salomão à
dignidade de rei, o ungiu, depois de lavar-se no Gion. Mas essas
coisas lhes aconteceram em figura. A vós, porém, não em figura,
mas, em verdade. Isso, já que o começo de vossa salvação remonta
àquele que foi ungido pelo Espírito Santo. Cristo é realmente as
primícias, e vós sois a massa: mas se as primícias são santas, é
evidente que a santidade também passa à massa.
7. Guardai imaculada esta
unção: ensinar-vos-á todas as coisas, se permanecer em vós, como
ouvistes há pouco dizer o bem-aventurado João, explicando muitas
coisas sobre a unção. Esta unção é a salvaguarda espiritual do
corpo e a salvação da alma. Foi isto que desde tempos antigos o
santo Isaías profetizou, dizendo: o Senhor dos exércitos dará nesta montanha para todos os povos um banquete (Is 25, 6). Por montanha ele designa a Igreja, como
outras vezes quando diz: E nos últimos dias será visível a
montanha do Senhor. Beberão vinho, beberão a alegria, serão
ungidos de ungüento». E para que mais te assegures, ouve o que diz
sobre este ungüento em sentido místico: Transmite tudo isso às
nações, pois o desígnio do Senhor se estende sobre todos os
povos. Assim, pois, ungidos com este santo crisma, guardai-o sem
mancha e irrepreensível em vós, progredindo em boas obras e
tornando-vos agradáveis ao autor de nossa salvação, Cristo Jesus,
a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
-- Terceira Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados, de São Cirilo de Jerusalém (século IV)
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