Diz o Apóstolo: Sede como eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em meu espírito as prescrições segundo a carne. Porque também eu, como vós, sou homem. Em seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade, para que não o tratem como inimigo. Assim fala: Irmãos, suplico-vos, não me ofendestes em nada. Como se dissesse: “Não julgueis que desejo ofender-vos”.
Por isto diz ainda: Filhinhos, para que o imitem como pai. A quem, continua, dou de novo à luz até que Cristo se forme em vós. Fala principalmente na pessoa da santa mãe Igreja, pois declara em outro lugar: Tornei-me pequenino entre vós, como mãe que acalenta seus filhos.
![]() |
Santo Agostinho em seu escritório, de Sandro Boticelli. Igreja de Todos os Santos, Florença, Itália |
Disto decorre que, imitando-o, se torne o que ele é, na medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala João, deve caminhar como também ele caminhou.
Visto como os homens são concebidos pelas mães para se formar e, uma vez formados, são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: De novo dou à luz até que Cristo se forme em vós. Temos de entender este novo parto como a aflição dos cuidados que ele suporta por aqueles pelos quais sofre até que Cristo nasça. De novo sofre as dores do parto por causa da sedução perigosa que os perturba. Semelhante solicitude a respeito deles, que o faz dizer estar em dores do parto, pode continuar até que cheguem à medida da idade perfeita de Cristo, de maneira que já não se deixem levar por todo vento de doutrina. Não está solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já haviam nascido, mas quanto a seu fortalecimento e perfeição. Assim é que ele diz: A quem de novo dou à luz, até que Cristo se forme em vós. Com outras palavras refere-se ao mesmo sofrimento: Os meus cuidados de todos os dias, a solicitude por todas as Igrejas. Quem se enfraquece sem que eu também me torne fraco? quem tropeça, que eu não me ponha a arder?
-- Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas, de Santo Agostinho, bispo (século V)
-- Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas, de Santo Agostinho, bispo (século V)
Nenhum comentário:
Postar um comentário