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12 de abr. de 2025

A Última Ceia, uma Páscoa judaica


A Última Ceia foi a celebração da Páscoa judaica, um
"seder", a solene refeição sacrificial realizada de acordo com os antigos ritos judaicos por nosso Senhor e seus apóstolos. Aqui revemos os acontecimentos dessa solene refeição, segundo se narra no Evangelho e do que os eruditos nos dizem da Páscoa no tempo de Cristo. Realmente, a Última Ceia foi a "última", em parte porque foi a celebração final dos ritos pascais da nova lei, a Páscoa Cristã.

"Este é o meu corpo que é entregue por vós"

A Ceia Pascal é uma espécie de preparação da Missa que enfoca nossa atenção no coração do mistério pascal, o Cordeiro que foi sacrificado e nos redimiu da escravidão com seu sangue.

A Última Ceia foi a celebração da Páscoa judaica, um "seder", uma solene refeição sacrificial realizada de acordo com os antigos ritos judaicos por nosso Senhor e seus apóstolos. Aqui queremos reconstruir os acontecimentos dessa solene refeição, segundo se narra no Evangelho e do que os eruditos nos dizem da Páscoa no tempo de Cristo. Realmente, a Última Ceia foi a última, porque foi a celebração final dos ritos pascais da nova lei, a Páscoa Cristã.

A Última Ceia é o momento decisivo quando os símbolos e profecias de outrora do Antigo Testamento são substituídos para sempre pelos fatos e cumprimento do Novo Testamento. Os evangelistas omitiram, ao narrar essa Ceia, muitos detalhes que davam como conhecidos por seus leitores judeus. Por exemplo, nosso Senhor toma o cálice duas vezes na narração de São Lucas na Última Ceia (Lc. 22: 17-20), São Paulo fala da "Taça da bênção" (1Cor 10,16) e São Mateus menciona um salmo antes que os Apóstolos deixassem o Cenáculo? (Mt. 26: 30). Tudo isto faz parte de um Seder judaico, e os judeus, ainda hoje, compreendem muito bem o que está sendo narrado.

Essas e outras frases ganham novo significado à luz dos antecedentes judaicos. A Ceia Pascal também nos ajudará a entender e a aprofundar as cerimônias litúrgicas da Semana Santa e da Páscoa, impregnadas como estão de figuras e alusões ao Antigo Testamento nas várias orações e salmos da liturgia católica. "Esta é a solenidade pascal na qual o verdadeiro Cordeiro foi sacrificado..." "Ó noite bendita que despojou os egípcios e enriqueceu os hebreus..."

Ao mesmo tempo, compreendendo mais claramente o contexto no qual Cristo escolheu instituir a Santa Eucaristia, se enriquecerá nossa participação na Missa. A Ceia Pascal é uma espécie de preparação da Missa que enfoca nossa atenção no coração do mistério pascal, o Cordeiro que foi sacrificado e nos redimiu da escravidão com seu sangue. E assim nos prepara para entrar mais de cheio em cada Missa, porque a Vigília Pascal não foi unicamente o fim do velho rito, mas o princípio do novo. Santo Atanásio diz: "Quando nos reunimos e comemos a carne de nosso Senhor e bebemos seu sangue, celebramos a Páscoa". A cerimônia da Ceia Pascal nos permite representar os eventos da vigília pascal como um drama-oração, para nos prepararmos para a verdadeira representação da vigília pascal na Santa Missa. 

Mas, por que Cristo usou a Ceia Pascal para instituir a Eucaristia? É importante que pensemos que isto representa a eleição deliberada e completamente considerada de Cristo. Ele envia seus discípulos para preparar o Cenáculo. Ele se preocupa com o tempo e o lugar exato e arranja tudo cuidadosamente de antemão, dizendo-lhes: Ardente desejo tive de comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento; pois vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no Reino de Deus (Lc. 22: 15-16).   

A história do Êxodo do Egito que a Igreja lê em preparação aos mistérios pascais é a maior parábola de nossa Redenção no Antigo Testamento. Cada detalhe é significativo. E, dentro de todos os acontecimentos da Antiga Lei, o mais significativo de todos é o sangue do cordeiro sacrificado aspergido nas portas dos filhos de Israel para que o anjo vingador, que veio matar o primogênito em toda casa do Egito, "passasse por cima" das casas dos hebreus. O sangue do cordeiro profetiza o verdadeiro cordeiro cujo sangue libertou o mundo da escravidão do pecado. 

Deus ordenou que esta primeira Páscoa fosse comemorada solenemente em uma festividade anual; o povo devia sacrificar um cordeiro e participar de sua refeição com pão ázimo e ervas amargas, uma lembrança da fuga apressada do Egito, quando não houve tempo de levar consigo pão com fermento, em agradecimento pela liberdade que foi um presente de Deus. 

A festa da Páscoa anual ainda é uma celebração fundamental na religião judaica. Com o passar dos séculos, o ritual tornou-se mais elaborado; gradualmente também a Páscoa tornou-se não unicamente uma memória do agradecimento a Deus pela bondade a Israel no passado, mas como uma profecia do futuro; justamente como Deus uma vez conduziu o povo escolhido, longe da escravidão, para que um dia os guiasse ao novo êxodo, à era futura do Messias. 

No tempo de nosso Senhor, a ceia pascal já não era comida de pé e apressadamente, mas sentados ao redor da mesa de festa. Em grande contraste com aquela noite de fuga, 1.500 anos antes, a atmosfera era de amor e alegria espiritual. O coração verdadeiro da celebração permanecia o mesmo através dos séculos: sacrifício e banquete sacrificial, celebrado em ação de graças. 

A Vigília Pascal

Agora podemos começar a ver por que Cristo escolheu este momento para seu sacrifício. Esta festa familiar do povo escolhido, celebrada pelo povo como um todo e com um só coração, existia para que pudesse ser transformada na grande festa da comunidade cristã, demonstrando caridade, unindo mais intimamente em um só corpo aqueles alimentados pelo único Pão divino. A primeira Páscoa foi comemorada em uma Ceia Pascal; a segunda Páscoa, o sacrifício de Cristo, nossa Páscoa, foi realizada na Santa Missa, a Ceia Pascal do Novo Testamento.

No contexto da Páscoa, o significado do sacrifício se esclarece: "Este é o meu corpo que é entregue por vós" (Lc 22,19) para que vós possais vencer a morte no pecado para a vida de Deus. Nesse contexto, esclarece-se também que o novo sacrifício terá também seu banquete sacrificial: "Em verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós." (Jo 6,54). 

Na Última Ceia, Cristo com toda humildade e reverência guardou a Páscoa com seus discípulos, observando cada detalhe do seu ritual. Mas quando a Ceia ia concluir, Ele substituiu o antigo rito pelo novo. Ele tomou o pão, o abençoou e partiu, e o que deu aos seus discípulos já não era simplesmente o pão sem fermento da Páscoa. Ele tomou o cálice, o abençoou e o que lhes deu já não era unicamente a oferenda da Páscoa, mas o mistério da Nova Aliança que acabava de ser estabelecida. O momento supremo, antecipado na comemoração da Páscoa através dos séculos, havia chegado. A redenção do homem ia realizar-se. 

Geralmente se sustenta que nosso Senhor celebrou a Páscoa com seus discípulos na quinta-feira à noite, antecipando em um dia a Páscoa legal dos discípulos. Na Sexta-feira Santa, na hora precisa em que os cordeiros pascais eram sacrificados no Templo, símbolo claro do cumprimento das profecias, o Cordeiro de Deus consumava seu sacrifício na Cruz. 

A Velha Aliança entre Deus e o povo escolhido havia sido selada pelo sangue de muitas vítimas. A Nova Aliança estava agora selada pelo sangue da única vítima perfeita. O cordeiro figurado era substituído pelo Cordeiro verdadeiro. O sacrifício agora havia sido feito perfeito. Este mesmo sacrifício profetizado na Páscoa judaica, cumprido no Calvário, é renovado em cada Missa. Tão frequentemente quanto nós, cristãos, o povo escolhido do Novo Testamento, comemos o pão e bebemos o vinho, celebramos o mistério pascal. 

Como diz São João Crisóstomo, em cada Missa "é Cristo quem aqui e agora celebra a Páscoa com seus discípulos. E a mesa do altar é nada menos que a mesa da Última Ceia". Esta representação da Ceia Pascal é, então, uma preparação para o mistério pascal, como é renovado em cada Missa, e mais especialmente como é celebrado na Quinta-feira Santa e durante toda a Semana Santa... agora que as cerimônias litúrgicas da Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa e Sábado Santo foram restauradas para as horas da noite, a dramatização pode ser feita apropriadamente a qualquer hora antes da Missa de Quinta-feira, e talvez melhor na noite de Quarta-feira Santa.

Retirado de "Celebración de la Cena Pascual", de Mons. Mario De Gasperín

Tradução própria


9 de jan. de 2015

Batismo do Senhor - Domingo 11/01/2015

Mc 1,7-11
Naquele tempo, 7João Batista pregava, dizendo: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias. 8Eu vos batizei com água, mas ele vos batizará com o Espírito Santo”.
9Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia, e foi batizado por João no rio Jordão. 10E logo, ao sair da água, viu o céu se abrindo, e o Espírito, como pomba, descer sobre ele.
11E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho meu bem-querer”.
Comentário:
Este trecho do Evangelho de Lucas consta de duas partes: a apresentação que São João Batista faz de Jesus e a narrativa do Batismo. Esta difere de Mateus 3,16-17 apenas porque a voz do céu é dirigida a Jesus e não aos presentes. O sentido, em abos, é claramente dado pela profecia de Isaías 42,1-7 e introduz a Paixão de Cristo.
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Isaías 42, 1-7
  • Isaías 55, 1-11
Evangelhos
  • Mateus 2, 19-21
  • Mateus 3, 16-17
  • Lucas 2, 29-32
Cartas
  • 1 João 5, 1-9
  • Tito 2,11-14; 3, 4-7

16 de mar. de 2013

Quinto Domingo de Quaresma - Ano C

O acontecimento histórico desta semana, a eleição do Papa Francisco, o primeiro Papa das Américas, o primeiro jesuíta, o primeiro a chamar-se Francisco, talvez o primeiro a ter apenas um pulmão, lembra-nos claramente que Deus inclui todos na sua Igreja, e todos tem um papel a desempenhar. 

A primeira leitura deste Domingo é tirada do livro Isaias (Is 43,16-21). Na semana passada ouvimos a conclusão da saída do Egito e a primeira Páscoa na terra prometida. Hoje começamos a olhar para um novo êxodo que Deus promete através do profeta Isaias, um êxodo que promete ser ainda mais maravolhoso que o primeiro, pois Deus promete restaurar toda grandeza de Israel após o retorno da Babilônia.

A segunda leitura da Carta de São Paulo aos Filipenses (Fp 3,8-14) é uma advertência ao povo sob os falsos mestres, judeus que tentam manter as velhas tradições enquanto dizem ser cristãos. Segundo eles, para ser cristão, era necessário ser judeu, ser circuncidado, obedecer as leis do Velho Mandamento. Esta questão, se os gentios convertidos ao Cristianismo devem aceitar os ritos judaicos precipitou o primeiro Concílio de Jerusalem. O Apóstolo responde que é necessário olhar para a frente, abandonar o passado, mirar Cristo Ressucitado na cruz.

O Evangelho de São João (8,1-11) é sobre uma mulher surpreendida em adultério, segundo a antiga lei sujeita a morte por apredejamento. “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Assim Jesus clama por misericórdia, e eles acabam se afastar reconhecendo também serem pecadores. 

Quando fica a sós com a mulher, a mulher talvez esteja assustada por que Jesus não tem pecados e, segundo a condição que Ele mesmo impôs, poderia puni-la. Mas olhando para ela, diz-lhe: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Como ressalta Santo Agostinho, Jesus condena o pecado, não a mulher. Com cantamos no Salmo: "Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!" 

Cristo inclui a mulher adúltera na sua Igreja, foi misericordioso. Como aconselhou o Papa Francisco ao confessores na Basílica de Santa Maria Maior, na sua primeira visita após a eleição: "Sejam piedosos com as almas que lhes procuram, estas pessoas precisam de vós", lembrem-se sempre, emfatizou "misericórida, misericórdia, misericórdia".  

23 de fev. de 2013

Sermão sobre a Transfiguração do Senhor


O Senhor manifesta a sua glória na presença de testemunhas escolhidas, e de tal modo fez resplandecer o seu corpo, semelhante ao de todos os homens, que seu rosto se tornou brilhante como o sol e suas vestes brancas como a neve.

A principal finalidade dessa transfiguração era afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo. Mas, segundo um desígnio não menos previdente, dava-se um fundamento sólido à esperança da santa Igreja, de modo que todo o Corpo de Cristo pudesse conhecer a transfiguração com que ele também seria enriquecido, e os seus membros pudessem contar com a promessa da participação daquela glória que primeiro resplandecera na Cabeça.

A esse respeito, o próprio Senhor dissera, referindo-se à majestade de sua vinda: Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai (Mt 13,43). E o apóstolo Paulo declara o mesmo, dizendo: Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós (Rm 8,18). E ainda: Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória (Cl 3,3-4).

Entretanto, aos apóstolos que deviam ser confirmados na fé e introduzidos no conhecimento de todos os mistérios do Reino, esse prodígio ofereceu ainda outro ensinamento.

Moisés e Elias, isto é, a Lei e os Profetas, apareceram conversando como Senhor, a fim de cumprir-se plenamente, na presença daqueles cinco homens, o que fora dito: Será digna de fé toda palavra proferida na presença de duas ou três testemunhas (cf. Mt18,16).

Que pode haver de mais estável e mais firme que esta palavra? Para proclamá-la, ressoa em uníssono a dupla trombeta do Antigo e do Novo Testamento, e os testemunhos dos tempos passados concordam com o ensinamento do Evangelho.

Na verdade, as páginas de ambas as alianças confirmam-se mutuamente; e o esplendor da glória presente mostra, com total evidência, Aquele que as antigas figuras tinham prometido sob o véu dos mistérios. Porque, como diz João, por meio de Moisés foi dada a Lei, mas a graça e a verdade nos chegaram através de Jesus Cristo (Jo 1,17). Nele cumpriram-se integralmente não só a promessa das figuras proféticas, mas também o sentido dos preceitos da lei; pois pela sua presença mostra a verdade das profecias e, pela sua graça, torna possível cumprir os mandamentos.

Sirva, portanto, a proclamação do santo Evangelho para confirmar a fé de todos, e ninguém se envergonhe da cruz de Cristo, pela qual o mundo foi redimido.

Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida. O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no seu amor e na proclamação do seu nome, venceremos o que ele venceu e receberemos o que prometeu.

Assim, quer cumprindo os mandamentos ou suportando a adversidade, deve sempre ressoar aos nossos ouvidos a voz do Pai, que se fez ouvir, dizendo: Este é o meu filho amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o (Mt 17,5).

-- Dos Sermões de São Leão Magno, papa (século V)

13 de jan. de 2013

Festa do Batismo de Jesus


Hoje a Igreja celebra a Solenidade do Batismo do Nosso Senhor. As Igrejas Ortodoxas chamam esta festa Teofania pois no Jordão aperecem as três pessoas da Santíssima Trindade: Deus fala e o Espírito Santo descende sobre o Filho. 

O batismo de João, que Jesus recebe, baseava-se no arrependimento dos pecados cometidos  aceitação de uma vida mais correta. Por óbvio, Jesus não tinha pecados para se arrepender e não precisava deste Batismo, como deixa claro São João Batista ao dizer que ele deveria ser batizado por Cristo, não o contrário.

Em Israel, um homem atinge a maturidade plena aos 30 anos, quando pode tornar-se Mestre, depois ter crescido em idade e sabedoria, como nos falou o Evangelho da semana anterior. É neste momento que Deus, publicamente, declara Jesus ser seu Filho amado, aquele que vai cumprir as promessas do Antigo Testamento, por quem as nações distantes, não apenas Israel, esperam. A partir deste momento, Jesus abandona uma vida normal, de trabalhador, para tornar-se o Messias esperado. 

Outro sinal importante é o Espírito Santo ter descido sobre as águas do Jordão, marcando justamente o início de uma nova criação, assim como Espírito de Deus pairava sobre as águas na primeira criação (Gn 1, 2). São Máximo de Turim afirma que todas as águas foram santificadas e podem ser utilizadas o Batismo, como faz a Igreja em todo mundo. 

Esta Festa marca o final do Tempo de Natal. Neste tempo, Cristo foi anunciado à Maria, nasceu na noite de Natal, adorado pelo Reis magos, ensinou no Templo já aos 12 anos e, por fim, é batizado, iniciando sua vida pública que culminará na noite de Páscoa.

22 de nov. de 2012

Reino dos Céus, Reino de Deus e Reino de Cristo


A missão da Igreja é a de anunciar o Reino de Cristo e de Deus e de instaurá-lo entre todos os povos; desse Reino ela é na terra o germe e o início. Por um lado, a Igreja é sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade do género humano; ela é, portanto, sinal e instrumento do Reino: chamada a anunciá-lo e a instaurá-lo. Por outro, a Igreja é o povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ela é portanto o Reino de Cristo já presente em mistério, constituindo assim o seu germe início. O Reino de Deus tem, de fato, uma dimensão escatológica: é uma realidade presente no tempo, mas a sua plena realização dar-se-á apenas quando a história terminar ou se consumar.

Dos textos bíblicos e dos testemunhos patrísticos, bem como dos documentos do Magistério da Igreja, não se tiram significados unívocos para as expressões Reino dos CéusReino de Deus Reino de Cristo, nem para a relação das mesmas com a Igreja, sendo esta um mistério que não se pode encerrar totalmente num conceito humano. Podem existir, portanto, diversas explicações teológicas dessas expressões, mas nenhuma dessas possíveis explicações pode negar ou esvaziar de maneira nenhuma a conexão íntima entre Cristo, o Reino e a Igreja. Pois, o Reino de Deus, que conhecemos pela Revelação não pode ser separado de Cristo nem da Igreja... Se separarmos o Reino, de Jesus, ficaremos sem o Reino de Deus, por Ele pregado, acabando por se distorcer quer o sentido do Reino, que corre o risco de se transformar numa meta puramente humana ou ideológica, quer a identidade de Cristo, que deixa de aparecer como o Senhor, a quem tudo se deve submeter (cf. 1 Cor 15,27). De igual modo, não podemos separar o Reino, da Igreja. Com certeza que esta não é fim em si própria, uma vez que se ordena ao Reino de Deus, do qual é princípio, sinal e instrumento. Mesmo sendo distinta de Cristo e do Reino, a Igreja todavia está unida indissoluvelmente a ambos.

Afirmar a relação inseparável entre Igreja e Reino não significa porém esquecer que o Reino de Deus — mesmo considerado na sua fase histórica — não se identifica com a Igreja na sua realidade visível e social. Não se deve, de fato, excluir a obra de Cristo e do Espírito fora dos confins visíveis da Igreja. Daí que se deva também considerar que o Reino diz respeito a todos: às pessoas, à sociedade, ao mundo inteiro. Trabalhar pelo Reino significa reconhecer e favorecer o dinamismo divino, que está presente na história humana e a transforma. Construir o Reino quer dizer trabalhar para a libertação do mal, sob todas as suas formas. Em resumo, o Reino de Deus é a manifestação e a atuação do seu desígnio de salvação, em toda a sua plenitude.

Ao considerar as relações entre Reino de Deus, Reino de Cristo e Igreja hão-de evitar-se sempre as acentuações unilaterais, como são as concepções que propositadamente colocam o acento no Reino, auto-denominando-se de “reino-cêntricas”, pretendendo com isso fazer ressaltar a imagem de uma Igreja que não pensa em si, mas dedica-se totalmente a testemunhar e servir o Reino. É uma “Igreja para os outros” — dizem — como Cristo é o “homem para os outros”. Ao lado de aspectos positivos, essas concepções revelam frequentemente outros negativos. Antes demais, silenciam o que se refere a Cristo: o Reino, de que falam, baseia-se num “teo-centrismo”, porque — como dizem — Cristo não pode ser entendido por quem não possui a fé n'Ele, enquanto que povos, culturas e religiões se podem encontrar na mesma e única realidade divina, qualquer que seja o seu nome. Pela mesma razão, privilegiam o mistério da criação, que se reflete na variedade de culturas e crenças, mas omitem o mistério da redenção. Mais ainda, o Reino, tal como o entendem eles, acaba por marginalizar ou desvalorizar a Igreja, como reação a um suposto eclesiocentrismo do passado, por considerarem a Igreja apenas um sinal, aliás passível de ambiguidade. Tais teses são contrárias à fé católica, por negarem a unicidade da relação de Cristo e da Igreja com o Reino de Deus.

-- Declaração Dominus Iesus sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja - Congregação para a Doutrina da Fé, em 6 de Agosto de 2000, Festa da Transfiguração do Senhor, quando o Prefeito era o então Cardeal Joseph Ratzinger.

29 de jun. de 2012

O sétimo artigo do Creio (Compêndio da Doutrina Católica)


Que nos ensina o sétimo artigo: donde há de vir a julgar os vivos e os mortos?
- Que o mesmo Cristo Nosso Senhor no fim do mundo virá do céu, cheio de glória e majestade para julgar todos os homens, dando a cada um o prêmio e castigo que tiver merecido.

Se cada um logo depois da morte tem de ser julgado por Jesus Cristo no juízo particular, porque havemos de ser julgados no Juízo Universal?
- Por muitas razões: (1) para glória de Deus; (2) para glória de Jesus Cristo; (3) para glória também dos santos; (4) para confusão dos maus; (5) finalmente para que o corpo, com a alma, tenha a sua sentença de glória ou de pena.

Porque será esse juízo para a glória de Deus?
- Para que saibam todos, com quanta justiça Deus governa o mundo, posto que agora se vê algumas vezes os bons em aflição e os maus em prosperidade.

Porque para glória de Jesus Cristo?
- Porque tendo ele sido injustametne condenado pelos homens, lhe é devido o aparecer uma vez como Juiz Supremo de todos na face de todo o mundo.

Porque será também esse Juízo para a glória dos santos?
- Porque muitos deles morreram difamados pelos maus; e pede a razão que em presença do mundo sejam glorificados.

E qual será a confusão dos maus?
- Grandíssima será a sua confusão, principalmente daqueles que em vida pretenderam ser estimados como bons e virtuosos, vendo manifesto a todo mundo os seus pecados, ainda os mais ocultos.

-- Compêndio da Doutrina Cristã, por São Roberto Belarmino (século XVI)

11 de jun. de 2012

Jesus veio curar as chagas do pecado


O homem dotado de razão que se prepara para a libertação que lhe trará a vinda de Jesus deve conhecer o que é segundo a sua natureza espiritual. Deus não veio somente uma vez visitar suas criaturas. Desde a origem, a Lei da Aliança encaminhou muitos para o Criador e ensinou-lhes como adorar a Deus convenientemente. 

Mas a extensão do mal, o peso do corpo, as paixões perversas tornaram impotente a Lei da Aliança e deficientes os sentidos interiores. Impossível recobrar o estado da criação primeira. Por isso é que Deus, em sua bondade, proporcionou-lhes aprender, pela Lei escrita, como adorar o Pai. 

O Criador constatou que a chaga se envenenava e que era necessário recorrer a um médico; Jesus, já criador dos homens, vem ainda curá-los. Ele se entregou por todos nós; nossos pecados causaram a sua humilhação; suas chagas, nossa cura. 

Peço-vos, caros amigos no Senhor, considerai este escrito como um mandamento do Senhor. Compete-nos agora trabalharmos em nossa libertação, graças à sua vinda; compreendei bem o que sois, para vos dispordes a vos oferecerdes como vítimas agradáveis a Deus. Preparai- vos, porque ainda temos intercessores para suplicar a Deus que ponha em nosso coração aquele fogo na terra espalhado por Jesus.

-- Dos Escritos de Santo Antão, monge (século IV)

19 de mar. de 2012

Guarda fiel e providente


São José com o menino Jesus
Guido Reni
É esta a regra geral de todas as graças especiais concedidas a qualquer criatura racional: quando a providência divina escolhe alguém para uma graça particular ou estado superior, também dá à pessoa assim escolhida todos os carismas necessários para o exercício de sua missão.

Isto verificou-se de forma eminente em São José, pai adotivo do Senhor Jesus Cristo e verdadeiro esposo da rainha do mundo e senhora dos anjos. Com efeito, ele foi escolhido pelo Pai eterno para ser o guarda fiel e providente dos seus maiores tesouros: o Filho de Deus e a Virgem Maria. E cumpriu com a máxima fidelidade sua missão. Eis por que o Senhor lhe disse: Servo bom e fiel! Vem participar da alegria do teu Senhor! (Mt 25,21).

Consideremos São José diante de toda a Igreja de Cristo: acaso não é ele o homem especialmente escolhido,por quem e sob cuja proteção se realizou a entrada de Cristo no mundo de modo digno e honesto? Se, portanto, toda a santa Igreja tem uma dívida para com a
Virgem Mãe, por ter recebido a Cristo por meio dela, assim também, depois dela, deve a São José uma singular graça e reverência.

Ele encerra o Antigo Testamento; nele a dignidade dos patriarcas e dos profetas obtém o fruto prometido. Mas ele foi o único que realmente possuiu aquilo que a bondade divina lhes tinha prometido.

E não duvidemos que a familiaridade, o respeito e a sublimíssima dignidade que Cristo lhe tributou, enquanto procedeu na terra como um filho para com seu pai, certamente também nada disso lhe negou no céu, mas antes, completou e aperfeiçoou.

Por isso, não é sem razão que o Senhor lhe declara: Vem participar da alegria do teu Senhor! Embora a alegria da felicidade eterna penetre no coração do homem, o Senhor preferiu dizer: Vem participar da alegria. Quis assim insinuar misteriosamente que a alegria não está só dentro dele, mas o envolve de todos os lados e o absorve e submerge como um abismo sem fim.

Lembrai-vos de nós, São José, e intercedei com vossas orações junto de vosso Filho adotivo; tornai-nos também propícia vossa Esposa, a santíssima Virgem, mãe daquele que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo pelos séculos sem fim. Amém.

Dos Sermões de São Bernardino de Sena, presbítero

18 de dez. de 2011

Por seu Filho, Deus nos revelou seu amor

Nenhum homem viu a Deus nem o conheceu, mas ele mesmo se manifestou. Manifestou-se pela fé, pois só a ela é concedida a visão de Deus. O Senhor e Criador do universo, Deus, que fez todas as coisas e as dispôs em ordem, não só amou os homens, mas também foi paciente com eles. Deus sempre foi, é e será o mesmo: benigno e bom, isento de ira, veraz; só ele é bom. E quando concebeu seu grande e inefável desígnio, só o comunicou a seu Filho. Enquanto mantinha oculto e em reserva seu plano de sabedoria, parecia abandonar-nos e esquecer-se de nós. Mas, quando revelou por seu Filho amado e manifestou o que havia preparado desde o princípio, ofereceu-nos tudo ao mesmo tempo: participar de seus benefícios, ver e compreender. Quem de nós poderia jamais esperar tamanha generosidade?

Tendo Deus, portanto, tudo disposto em si mesmo com o seu Filho, deixou-nos, até estes últimos tempos, seguir nossos impulsos desordenados, desviados do caminho reto pelos maus prazeres e paixões. Não que ele tivesse algum gosto com nossos pecados; tolerando-os, não aprovava aquele tempo de iniqüidade, mas preparava este tempo de justiça. Assim, convencidos de termos sido, naquele período, indignos da vida em razão de nossas obras, tornemo-nos agora dignos dela pela bondade de Deus. E depois de mostrar nossa incapacidade de entrar pelas próprias forças no Reino de Deus, nos tornemos capazes disso pelo poder divino.

Quando, pois, a nossa iniqüidade atingiu o auge e se tornou manifesto que a paga merecida do castigo e da morte estava iminente, chegou o tempo estabelecido por Deus para revelar sua bondade e poder. Ó imensa benignidade e amor de Deus! Ele não nos odiou, não nos rejeitou nem se vingou de nós, mas nos suportou com paciência. Cheio de compaixão, assumiu nossos pecados, entregou seu próprio Filho como preço de nossa redenção: o santo pelos pecadores, o inocente pelos maus, o justo pelos injustos, o incorruptível pelos corruptíveis, o imortal pelos mortais. O que poderia apagar nossos pecados a não ser sua justiça? Por quem poderíamos ser justificados, nós, ímpios e maus, senão pelo Filho de Deus?

Ó doce intercâmbio, ó misteriosa iniciativa, ó surpreendente benefício, ser a iniqüidade de muitos vencida por um só justo e a justiça de um só justificar muitos ímpios!

-- Da Carta a Diogneto (século II)

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