29 de out. de 2012

O martírio de Santa Eulália


Santa Eulália nasceu em Emerita Augusta no ano de 292. Quando atingiu 12 anos, o imperador Diocleciano proibiu qualquer forma de culto a Jesus Cristo, mandando a todos adorar aos ídolos pagãos. A criança percebeu a injustiça das leis e resolveu protestar contra o governo. 

Sua mãe percebendo o risco, enviou-a para uma casa de campo, longe da cidade, mas de alguma forma ela chegou à cidade de Mérida. De madrugada, antes do amanhecer, se apresentou ao tribunal e gritou aos magistrados: "Digam-me que fúria é esta que os move a perder suas almas ao adorar ídolos falsos e negar o criador de todas as coisas? Se estais a procura de cristãos, aqui estou eu. Sou inimiga dos vossos deuses e estou disposta a pisoteá-los. Com a boca e o coração confesso o Deus verdadeiro. Isis, Apolo, Venus e até mesmo Maximiliano não são nada; uns porque obra dos homens, outro porque adora a coisas feitas por mãos humanas. Não se detenham, podem queimar-me, coratar meus membros; é coisa fácil quebrar um vaso frágil, porém minha alma não morrerá, por maior que seja a dor".

Sobremaneira irado, o governador Daciano ordenou ao pretor: "Apressa-te, cubra-la de suplícios para que saiba que há deuses e não é coisa que se faça não aceitar a sua autoridade". Porém, mudou de idéia e disse: "Tragam aqui os instrumentos de tortura". E disse-lhe: "Antes que morra, atrevida donzela, quero te mostrar tua loucura. Veja quantas alegrias podes desfrutar, que honras podes ter se te casares com um dignatário. Deixarás tua casa em lágrimas, teus pais ficarão gemendo de amor se te mantiveres obstinada a perder a vida. Veja estes instrumentos de suplício: ou te cortarão a cabeça com a espada, ou te queimará o fogo; e todos chorarão, enquanto te transformarás em cinzas. Que te custa evitar tudo isto? Basta tocares com a ponta de um só dedo a este sal consagrado e um pouquinho de incenso. Estarás totalmente perdoada". 

A menina respondeu-lhe: "A um só Deus oferecerei sacrifícios e queimarei incenso. A Ele e nada mais". Arrebatada de indignação, cuspiu no rosto do governador, jogou os ídolos no chão e com um pontapé derrubou o incensário em frente ao altar dos ídolos. Foi então que resolveram levar-lhe à prisão e aplicar-lhe três martírios, conforme ordenou o pretor Calpurniano.

O primeiro consistiu em açoitar-lhe com correias com espinhos que faziam cortes profundos por todo corpo. Sobre eles, Eulália disse: "Veja Senhor, que escrevem teu nome em meu corpo. Quão agradável é ler estas letras que assinalam a vitória de Jesus Cristo, que o meu sangue proclame o teu nome!"

Frente a tal destemor, Calpurniano mandou trazer azeite fervendo para derramar-lhe no corpo. Ela respondeu: "Este azeite não me fez mal, apenas acendeu ainda mais meu amor por Jesus Cristo".

Vendo isto, mandou-lhe queimar todo corpo lentamente, com tochas. Ela pediu-lhe: "Meu corpo esta assando, manda que me salguem para que minha carne possa ser um saboroso manjar a meu esposo celestial."

Então ordenou que a colocassem dentro do forno, mas viu que nada acontecia. Não tendo mais recursos, mando retirá-la e arrastá-la nua pela cidade até a praça onde as execuções eram realizadas. Foi então que avisou a Calpurniano: "Se não te arrependeres, aquele por cujo amor padeço, te dará o merecido castigo."

Ao chegar à praça, arrancaram-lhe as unhas dos pés e dedos e puseram-na em uma cruz. Levantando-a, deixaram cair a cruz para que quebrasse os ossos. Começaram novamente a queimar-lhe com tochas e vendo que chegava o fim de sua vida, disse suas últimas palavras: "Porque, Calpurniano, usas de crueldade contra mim? Pois abra teus olhos, veja meu rosto, grava-o bem em tua memória, para que no dia do juízo, quando compareceremos em frente ao meu Senhor e esposo Jesus Cristo, lembre-te de mim, pois ali receberás o castigo merecido por tua crueldade e eu receberei o prêmio pelos tormentos que ordenaste." 

As chamas atingiram o cabelo da virgem e ela faleceu. Dize-se que neste momento uma pomba branca saiu de seu corpo e, para admiração de todas testemunhas, subiu direto aos céus. O fogo apagou-se imediatamente e repousaram em paz os restos mortais. E todos puderam testemunhar este milagre, até mesmo os carrascos, surpreendidos, arrependeram-se. 

Mas Calpurniano ordenou que o corpo deveria ficar exposto, como exemplo para todos, por mais três dias. Foi então que nevou por três dias, cobrindo o cadáver. Ao final da tempestade, os cristãos apresentaram-se para recolher o corpo e dar-lhe digna sepultura. 

Assim que possível, uma igreja foi erguida no local de sua sepultura, tendo o altar principal sido construído exatamente sobre sua tumba. Relatos do século IV já afirmam que peregrinos visitavam a igreja para venerar seus santos ossos, que repousavam próximos ao Deus Vivo na Eucaristia. A Festa de Santa Eulália é celebrada em 10 de Dezembro.

Nota: Este texto trata de Santa Eulália de Mérida. Eventualmente pode ser confundida com Santa Eulália de Barcelona a quem é dedicada a Catedral (de Barcelona).


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